Datas / horários
15 setembro de 2024 16:00
Conversa em torno do fim da exposição Restos, Rastros e Traços, incluída no projeto INTROSPECTIVA, uma retroprospetiva do corpo de (e no) trabalho de João Fiadeiro.
O lugar do «agora» — território de eleição do pensamento e da prática artística de João Fiadeiro — tem dificuldade em manifestar-se plenamente no aparato teatral, espaço que normalmente acolhe as suas criações. O dispositivo rígido da black box ou do teatro «à italiana», onde o espectador é «obrigado» a permanecer numa posição fixa durante um tempo pré-determinado, colide frontalmente (de modo figurado e literal) com a experiência líquida, híbrida e oblíqua das suas propostas. A ocupação do espaço do museu que o projeto INTROSPECTIVA proporcionou, com performances duracionais e diárias nas suas galerias, permitiu a João Fiadeiro encontrar o território adequado à manifestação do seu imaginário.
O protocolo de acesso a uma obra de arte proposto pelo museu/galeria, só por si, convida o visitante a viajar entre o reparar, o olhar e o ver, criando as condições para que este se posicione, na proporção justa, relativamente ao modo como a obra o afeta, move e convoca. A experiência da performance no museu eleva ainda mais esta fasquia, convidando o visitante a transformar uma posição exclusivamente passiva numa relação mais ativa, envolvida. Perante a «obra em movimento», perante a presença de um performer que se desloca ao seu lado, à distância de um braço, o observador pode largar a pele de espectador e de visitante para abraçar uma postura mais próxima de uma testemunha ou de um cúmplice, tornando-se parte integrante da obra observada.
Assim se cumpre um dos desígnios do gesto artístico de João Fiadeiro: a diluição das fronteiras entre objeto e sujeito, ação e pensamento, eu e o outro.
Participantes João Fiadeiro, Márcia Lança, David Rato e Andrei Bessa, com moderação de Nuria Enguita.
Biografias
Márcia Lança nasceu em Beja e vive em Lisboa. Tem trabalhado como coreógrafa e performer em diversas configurações colaborativas. O seu interesse pela materialidade poética de ações e tarefas concretas está no centro dos seus processos de criação
David Rato, natural de Lisboa. Tem vindo a colaborar com diversas entidades culturais, sobretudo no âmbito da produção. Trabalha atualmente no MAC/CCB como produtor de exposições, tendo sido uma das pessoas envolvidas neste projeto.
Andrei Bessa nasceu em Fortaleza, no Nordeste do Brasil. Com foco na dramaturgia em processo, o seu trabalho entrelaça performance, dança e teatro. Atualmente, investiga o seu corpo gordo como material de expansão e expressão artística.