Ensemble Pulcinella

«No português, a linguagem íntima e sombria da nostalgia nas suas núpcias com o desejo é a palavra saudade que mantém ao incutir em todo o ser a deliciosa iridescência, sinuosa e insinuante. O magnetismo da palavra saudade investe sem falhar no rosto que ela modela instantaneamente diante da cantora ou do cantor de fado, misturando a doce loucura do suspiro inicial com o rasgo decisivo da lágrima final, assim como se forma a ondulação da maré enchente e vazante, dança flexível, a partir da explosão repentina de um vulcão subaquático, a exclamação gutural e o transe convulso. Apenas os sons da palavra saudade transmitem a revelação psíquica paradoxal da comoção das emoções, essa mistura inseparável de dor e felicidade, esse impulso rodopiante da sensibilidade repentinamente dividido entre, por um lado, a melancolia e o passado engolidos na ausência e, por outro, a efervescência e a sede de um futuro fulgurante de presença. A palavra saudade, como um melisma, é uma dança – mas é-o ainda mais do que qualquer melisma. Porque nele não há voluta solitária: a palavra saudade cria toda uma comunidade que rodopia.» – Patrick Quillier revue Cairn