Visualidades Negras
Heloisa Pires Lima, Billy Woodberry, Deborah Willis, Kenneth Montague, Ruth Wilson Gilmore
Datas / horários
6 abril | 18:30 | Heloisa Pires Lima - sessão em português 13 abril | 18:30 | Billy Woodberry - sessão em inglês
27 abril | 18:30 | Deborah Willis - sessão em inglês 4 maio | 18:30 | Kenneth Montague - sessão em inglês
18 maio | 18:30 | Ruth Wilson Gilmore - sessão em inglês
Conferências
Em 1861, Frederick Douglass, um negro norte-americano, escreveu um ensaio intitulado Imagens e progresso. Nascera escravizado, mas, tendo conseguido fugir, tornou-se uma voz pública – em textos e conferências – a favor da abolição e, em geral, da humanização dos milhões de norte-americanos de origem africana que, em meados do século XIX, viviam entre a opressão e a conquista de um estatuto de cidadania. Douglass escreveu sobre o potencial transformador da fotografia para produzir mudanças sociais e políticas na nova nação surgida após a guerra civil. Vivia, segundo ele, num século em que a imagem se tinha tornado mais importante do que a palavra, e fez-se fotografar em retratos de estúdio que contrastavam com as muitas fotografias de pessoas escravizadas feitos no mesmo período em vários lugares do mundo.
Também nos EUA, e no mesmo período, Sojourner Truth, uma mulher que nascera escravizada, recorria à autorrepresentação fotográfica para promover a dignidade das mulheres e homens negros norte-americanos. Sob o seu retrato, que vendia para promover a causa abolicionista tal como a igualdade de género, lia-se uma frase icónica: «Eu vendo a sombra para promover a substância» (1864/1865). A sombra da fotografia ao serviço da substância – um futuro mais humano e igualitário onde a discriminação fosse algo do passado. Esse futuro provou ser uma «luta constante», como escreveu mais de cem anos depois Angela Davis, mas as potencialidades da imagem como empoderamento e não apenas como desumanização já estavam enunciadas.
Estes dois casos servem como contra narrativas a uma cultura visual dominante em que as imagens de pessoas negras surgiam em situações de escravatura ou colonialismo ou, ontem como hoje, vítimas de racismo e violência, policial como estrutural ou, no caso dos corpos das mulheres, também violência sexual. Desigualdade racial e de género legitimada por genealogias de poderes em que uns corpos valiam mais do que outros.
Cada contexto nacional tem a sua especificidade histórica. Se os arquivos históricos visuais dos EUA são indissociáveis da escravatura oitocentista ou da segregação recente, as imagens de pessoas negras nos arquivos portugueses, como nos franceses, britânicos ou alemães são inseparáveis de uma história recente em que a cronologia do colonialismo coincidiu com a da fotografia nas suas múltiplas formas de reprodução – postais, livros, jornais e folhetos.
Nos últimos anos têm sido muitos os académicos, artistas, curadores e arquivistas – muitos deles negros e da diáspora africana – a abordarem criticamente a relação entre visualidade e negritude, entre imagens e racismo, entre direito a representação no espaço público como modo de justiça racial e social; ou, as muitas implicações éticas em lidar, hoje, com os legados visuais do passado.
Neste ciclo de conferências, iremos ouvir e debater com algumas destas vozes. – Filipa Lowndes Vicente, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Ruth Wilson Gilmore ©Amaal Said
Deborah Willis
Heloísa Pires Lima ©Renato Parada
Billy Woodberry (c) Joana Linda
Kenneth Montague
18 maio
Ver: O Problema
E se imagens fotográficas estáticas e em movimento mostrarem coisas que nunca deveriam ter acontecido? Esta palestra explorará a representação no contexto conjuntural, traçando tecnologias e ideologias como co-constitutivas, embora não sejam transparentes nem fechadas.
SESSÃO EM INGLÊS / APENAS PRESENCIAL
6 abril
Tá faltando mundo aí: Literatura, infância e representações culturais
O livro é uma invenção maravilhosa. Enquanto encanta, vai fornecendo elementos para o imaginário acerca dos mundos e da vida ao redor. A antropóloga Heloisa Pires Lima, autora, editora e consultora da área na perspetiva infantil e juvenil, destaca algumas dinâmicas do circuito para o caso da origem continental africana.
SESSÃO EM PORTUGUÊS / APENAS PRESENCIAL
13 abril
Billy Woodberry
Billy Woodberry nasceu em Dallas, em 1950. É conhecido como um dos principais nomes da chamada L.A. Rebellion, uma geração de jovens cineastas afro-americanos que procuraram a construção de um novo cinema negro. A sua longa-metragem Bless Their Little Hearts (1984) é umas das obras essenciais deste movimento, com uma forte influência do neorrealismo italiano e do chamado Third Cinema. Venceu os prémios OCIC e Interfilm do júri ecuménico no Festival de Cinema de Berlim do mesmo ano. Além de realizador, participou no filme When It Rains (1995), de Charles Burnett, um dos seus colaboradores mais próximos, e emprestou a sua voz nos filmes Red Hollywood (1996), de Thom Andersen, e Four Corners (1998), de James Benning. O seu trabalho tem sido selecionado para os festivais de Cannes e Berlim e alvo de retrospetivas no MoMA, no Harvard Film Archive, no Camera Austria Symposium, no Human Rights Watch Film Festival, no Tate Modern e no Centre Pompidou. Billy Woodberry é também professor de Cinema na Escola de Artes da Califórnia (CalArts) e ainda na UCLA.
SESSÃO EM INGLÊS / APENAS PRESENCIAL
27 abril
O corpo negro e a lente
A palestra da professora Deborah Willis explora a gama de ideias e métodos utilizados por pensadores críticos ao abordar o corpo na fotografia e na impressão. Central para a discussão será um foco em como a exibição do corpo negro afeta a forma como vemos e interpretamos o mundo. Usando uma série de estudos de caso, Willis considerou a construção de beleza e estilo, imagens genderizadas, raça e cultura pop. O olhar histórico determinou profundamente a construção visual do corpo negro na sociedade contemporânea. A interação entre o histórico e o contemporâneo, entre a autoapresentação e a representação imposta – todas estas questões são fundamentais para a sua tese. A palestra também explorará as formas pelas quais a nossa compreensão contemporânea de arte, história e cultura é construída e informada pela exibição pública em museus, textos e na paisagem global.
PRESENCIAL
4 maio
Kenneth Montague
As We Rise
Kenneth Montague falará sobre a sua mais recente exposição e livro de fotografias da cultura da diáspora africana: As We Rise. Criada a partir da sua própria coleção – The Wedge Collection, em Toronto, uma coleção dedicada a artistas de ascendência africana – a exposição e a publicação que a acompanha analisa as ideias multifacetadas da vida negra abordando temáticas como diligência, beleza, alegria, pertença, subjetividade e autorrepresentação. Com mais de uma centena de obras de artistas negros do Canadá, Caraíbas, Reino Unido, Estados Unidos e continente africano e, portanto, diferentes perspetivas atlânticas, e através de obras de artistas consagrados e jovens, este projeto oferece uma exploração da identidade negra em todos os lados do Atlântico.
SESSÃO EM INGLÊS / APENAS PRESENCIAL
Ficha Técnica
Curadoria e moderação: Filipa Lowndes Vicente
Fotografia Retrato de Frederick Douglass 1847_1852 Daguerreotipo_Samuel J Miller Cortesia de Art Institute of Chicago
Preços e Descontos
Nota: S/lugares marcados
Descontos
Estudantes 20% de desconto
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