É o final de uma tarde quente, num campo de ervas altas. Este é o lugar a meio do caminho. Aqui duas pessoas se encontram em confronto com o seu princípio: sou o meu corpo?

No seguimento de lamento de ĉiela (2019), invocação ao meu corpo (2020) é ainda uma tentativa de compreender o conceito de anomia, criado por Émile Durkheim no final do século XIX para designar o momento em que assistimos à falência da identidade comunitária, pela falta de valores ou regras, pela ausência de uma ortodoxia partilhada. Tentamos compreender o conceito através de personagens anómicas.

Em lamento de ĉiela, ouvimos as memórias de uma migrante; em Watt (2021) adaptamos o romance de Samuel Beckett com o mesmo nome, aproveitando a sua crítica à lógica cartesiana – e, por aí, a forma como a lógica contribui para a anomia –, em diálogo com a história da senilidade de um velho escritor; em invocação ao meu corpo pretendemos procurar uma leitura da anomia através da simbologia do corpo: quando o nosso próprio corpo é um conflito identitário estaremos perante uma anomia biológica? Que benefício podemos tirar da compreensão deste conceito?