Datas / horários
25 de abril 2020 | 16:00
Melleo Harmonia
Pensar nas obras de Beethoven implica inevitavelmente uma reflexão, não apenas sobre a qualidade intrínseca das mesmas, mas igualmente sobre o percurso histórico da sua interpretação.
Se durante os anos de 1970, era comum à maioria das orquestras uma postura interpretativa a la mode de Wagner ou Strauss, enquanto pertença a um suposto universo sonoro do período romântico; com a emergência de maestros como Abbado ou Kleiber, a sonoridade beethoveniana ganhou independência e uma definitiva individualidade.
A partir desse momento, as obras de Beethoven deixaram de ser clássicas ou românticas, para serem simplesmente “Beethoven”. E é assim que as devemos considerar no seu conjunto, partindo dessa assunção para a apreciação individual, com as suas características específicas, tanto para mais porque cada uma delas encerra um momento concreto da vida de um criador cuja personalidade esfuziantemente comprometida com o seu tempo lhe permitiu deixar um legado ainda hoje incontornável pela sua genialidade.
O seu compromisso fê-lo assumir a música como meio privilegiado de veiculação das suas ideias, intensificando-se esta posição nas obras instrumentais, onde podia expressar-se quase revolucionariamente sem se comprometer com a palavra.
Por essa razão, consideramos importantíssimo estimular os músicos para uma interpretação quase falada de cada linha musical, como se de articulação de palavras se tratasse, uma verdadeira declamação narrativa.
Esta postura ganha especial ênfase e efeito nas sinfonias, das quais apresentaremos aqui a primeira, escrita em 1800 e dedicada a Gottfried van Swieten, patrono não apenas de Beethoven, mas também de Haydn e Mozart.
Sendo tradicionalmente considerada como uma obra “clássica” dentro do acervo do compositor, por assumir a estrutura associada à tradição vienense, a verdade é que se sente já, embora dentro das fronteiras dos cânones conhecidos na época, a nota de que este pretendia trilhar um caminho diferente e inovador, o seu próprio caminho.
Desta forma, a obra começa com um inesperado acorde “dissonante” (na realidade, a sétima da dominante do acorde de Fá Maior), ao qual se segue uma pretensa indecisão tonal dos acordes iniciais, prolongada por quatro compassos, mascarando assim a tonalidade principal de Dó Maior.
O Minueto: Allegro molto e Vivace será, por ventura, o andamento mais original, o primeiro dos característicos scherzi sinfónicos beethovenianos. O tempo assumido é claramente mais rápido que o tradicional minueto, encerrando um dinamismo verdadeiramente contagiante, seguido de um trio composto por blocos de acordes nas madeiras e brilhantes passagens de notas rápidas nos violinos.
A obra termina com um Finale que inicia de forma engenhosa: um Adágio constituído por seis compassos que apresentam uma série de partidas em falso nos primeiros violinos.
A frescura dos temas apresentados em cada andamento contribuíram certamente para a imortalidade da obra.
Esta mesma frescura e brilhantismo estão já presentes em obras anteriores do compositor, nomeadamente, no Rondó para Piano e Orquestra em Si bemol maior, que ouviremos aqui com a talentosa pianista Marta Menezes.
Este, composto em 1793, terá sido inicialmente pensado como último andamento do segundo concerto para piano.
Tendo sido publicado presumivelmente em 1829 com a parte de piano completada por Carl Czerny, apresenta, apesar de uma indubitável postura clássica, algo da irreverência do compositor, patente no nervosismo eletrizante das intervenções do piano que, apesar de inspiradas na música de Mozart, revelam uma maior densidade. – Jenny Silvestre
Idades
Maiores de 6 anos
Ficha Técnica
Melleo Harmonia
Direção musical Joaquim Ribeiro
Piano Marta Menezes
Programa:
L. v. Beethoven Rondó para Piano e Orquestra em Si bemol maior, WoO 6
L. v. Beethoven Sinfonia n.º 1 em Dó maior, op. 21
1. Adagio molto – Allegro con brio
2. Andante cantabile con moto
3. Minuet. Allegro molto e vivace – Trio
4. Finale. Adagio – Allegro molto e vivace
Descontos
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