ALMA Ensemble

Para assinalar a sua estreia, o Alma Ensemble apresenta-se num espetáculo no dia de Reis, ilustrado perfeitamente com um programa alusivo à quadra natalícia. Na verdade, este concerto é uma verdadeira viagem no tempo… em 15 canções!

Desde há séculos, o nascimento de Jesus tem sido celebrado na civilização europeia, sobretudo através do canto, como prova o introito gregoriano Puer Natus est, cantado no dia de Natal: «Pois um menino nos nasceu, um filho se nos deu…» (Isaías 9:6). O programa prossegue com uma peça medieval inglesa do séc. XV: um dos primeiros exemplos de Carol – a mais genuína canção anglófona. O texto tece uma refinada comparação entre a Virgem Maria e uma flor: «Ther is no rose of swych vertu» – Não há rosa de tal virtude, como aquela que gerou Jesus.

A peça seguinte é do séc. XVI, mais concretamente de D. Pedro de Cristo, um dos músicos mais famosos do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Es Nascido é um vilancico em castelhano, como era habitual nesta época, pleno de contrastes e de polirritmia, num resultado final festivo e exultante.

Já o coro Herrscher des Himmels (Senhor dos Céus, escuta o nosso falar) do Oratório de Natal de J. S. Bach, dispensa apresentações e faz-nos saltar diretamente para o apogeu final do barroco alemão, com toda a sua riqueza contrapontística, tanto instrumental quanto vocal.

L’adieu des bergères de Berlioz e O Jesulein süß de Reger ilustram, cada um à sua maneira, a visão do Romantismo sobre o Natal: muitas vezes bucólica, ou até opulenta – como no Oratório L’Enfance du Christ de onde é extraído este Adeus dos pastores à Santa Família, mas também delicada, em modo de embalo, como na singela melodia alemã sobre o menino Jesus, de 1650, posteriormente harmonizada a 4 vozes por Reger.

A peça de Villa-Lobos é um ótimo exemplo da assimilação deste reportório europeu na América Latina, sendo este compositor justamente um dos responsáveis pelo renascer da música coral no Brasil, como se pode ouvir neste belíssimo Ave Maria.