Objeto, Corpo e Espaço

A arte das vanguardas assume sempre como sua tarefa repensar o objeto artístico, os seus processos criativos e a relação com o espetador. As segundas vanguardas do século XX, a partir da década de 1960 (na Europa, nos Estados Unidos, como na América Latina), refazem este caminho: repensam a escultura, libertada da base e em direto diálogo com o espaço

arquitetónico, abandonam a pintura ou reduzem-na ao mínimo — em termos cromáticos e formais, como se a reduzissem aos seus elementos essenciais —, ou, bem pelo contrário, vinculam-se à vida e ao quotidiano, centrando-se no corpo, individual ou coletivo, usando a fotografia como meio de fixar a vida e a ação, o movimento e a relação com o mundo.

A exposição, que inclui obras da Coleção Berardo, da Coleção Holma/Ellipse, da Coleção Teixeira de Freitas e da CACE, segue um percurso que parte dos movimentos artísticos que nascem durante a década de 1960 (nomeadamente o minimal, a arte povera ou o conceptualismo) para se centrar na ligação entre as propostas individuais dos artistas, progressivamente menos reunidos em movimentos artísticos.

Alguns tópicos, no entanto, são reconhecíveis. Por um lado, existe um alargamento das origens geográficas e culturais das diferentes propostas artísticas, num processo que é simultaneamente de globalização e de diversificação. Por outro, os conflitos inerentes ao reconhecimento dos direitos das minorias e o comprometimento político de muitos artistas adquire uma expressão significativa.

A instalação da exposição, que será periodicamente objeto de reajustes e novos confrontos, privilegia o diálogo entre obras, muitas vezes formalmente divergentes, mas com ligações nos tópicos que abordam: a estranheza, a crítica da dominação racial e colonial, o desvanecimento do objeto face à presença da palavra ou do texto, a memória, o corpo ou a sexualidade. Neste percurso não cronológico, cada sala coloca questões, interrogações e relações, numa viagem que é também um desafio ao espectador.

As obras selecionadas das Coleções em depósito no Museu, nomeadamente a Coleção Berardo, propõem uma visita por este percurso e os seus desenvolvimentos posteriores, procurando também noutras geografias e latitudes com diferentes declinações das mesmas preocupações críticas, oriundas de outros contextos culturais.