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15 e 22 novembro de 2021 18:00
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Pressagiando a forma como a Comuna de Paris terminaria num banho de sangue, Victor Hugo escreveu que «em determinados momentos, os povos colocam tudo em questão e tais terramotos sociais têm consequências trágicas». Durante a Semana Sangrenta que decorreu entre 21 e 28 de Maio de 1871, no turbilhão da derrota dos partidários da Comuna, os excessos de violência e a repressão impiedosa instalaram-se nos dois campos inimigos e os parisienses presenciaram e participaram na denúncia, perseguição e fuzilamento de milhares de communards.
O fim da insurreição popular francesa, que tinha durado 54 dias, e os seus últimos incidentes explosivos coincidiram com a semana do lançamento em Lisboa das Conferências Democráticas do Casino. À época, Antero de Quental e Eça de Queiroz eram jovens de 29 anos e de 25 anos de idade, respectivamente, assistindo de longe à hecatombe da Comuna de Paris.
«A resistência fez saltar uma velha sociedade pelo petróleo, pelo dinamite e pela nitroglicerina!», lê-se no derradeiro capítulo de O Crime do Padre Amaro. Com a sua corrosiva ironia, em sete páginas com centenas de pontos de exclamação, Eça escreve sobre a Comuna de Paris e, na conversa entre o conde de Ribamar e dois clérigos que decorre sob o pedestal da estátua de Camões no Chiado, é estabelecida uma equação entre o estado da política e da sociedade portuguesas e a insurreição francesa que incendiou uma série de símbolos do poder e do prestígio, tais como o Palácio da Justiça, o Palácio Municipal e o Palácio da Legião de Honra. As palavras do conde de Ribamar são estas: «Depois deste exemplo da Comuna, não se torna a ouvir falar de república, nem de questões sociais, nem de povo! É possível que haja um ou dois esturrados que se queixem e digam tolices sobre a decadência de Portugal e que estamos num marasmo! Baboseiras!» Provavelmente, os referidos «esturrados» seriam o próprio Eça e Antero de Quental, dois dos protagonistas das Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, lançadas em 22 de Maio de 1871. – Ana Rocha
(A autora escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico)
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